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Confira o que o Luiz Thunderbird escreveu sobre a PIC-NIC e o álbum Volta:
O sonho do jovem moderno de ter uma banda, de fazer parte de um clube e ser alguém nesse clube, é algo muito importante. Pelo menos pra algumas pessoas. Eu lembro de quando era cirurgião-dentista e só pensava em montar uma banda. Em meados dos anos 80 o rock
nacional estava fervendo e as bandas ocupavam espaços cada vez maiores na mídia. Mas eu gostava mesmo das bandas mais alternativas. Tinha o Ira!, mas eu preferia o Smack. Tinha o Kid Abelha, mas eu preferia As Mercenárias. Tinha a Legião Urbana, mas eu preferia os Voluntários da Pátria. Eu gostava de todos eles, mainstream ou underground, claro! Eu gostava mesmo da ideia de montar minha própria banda. E isso acabou acontecendo. Depois de um tempo, fechei o consultório e parti pro rock’n’roll. Minha banda completa 39 anos de estrada no momento em que escrevo esse texto.
Já a banda PIC-NIC veio na virada de uma década, de um século, de um milênio, um momento louco do rock no mundo todo. A gente conheceu os Strokes, por exemplo. Eles tomaram de assalto a MTV e as paradas de sucesso no mundo todo. No Brasil, esse foi um momento em que Los Hermanos superaram o sucesso de “Anna Julia” com um disco importante, o Bloco do Eu Sozinho. O rock brasileiro teve o estouro do hardcore com CPM-22, NX Zero, Fresno, Pitty. Teve a banda gaúcha Cachorro Grande e seu rock sessentista, Júpiter Maçã voava do experimental Hisscivilization para o pop com Uma tarde na fruteira.
Distantes dessas tendências mercadológicas ou experimentalismos, esses jovens cariocas da PIC-NIC gravaram o primeiro disco, foram bem recebidos, apareceram na MTV, chamaram a atenção dos festivais independentes, circularam pelo país, criaram um público e se engajaram na cena indie. Mais que isso, superaram o desafio do segundo disco, que costuma aniquilar algumas bandas. Eles, não! Prosseguiram na missão de se divertir e divertir a seus seguidores. Mas em 2007 houve um distanciamento entre eles, que durou muitos anos, mas também os trouxe de volta, quando o guitarrista Miguel achou todo o material com os registros do álbum gravado parcialmente por eles antes da pausa. Um disco por terminar, uma questão pra se resolver, uma razão pra voltar a fazer um som com a banda, voltar aos palcos, se divertir a valer, extravasar as emoções, colocar as conversas em dia, tudo isso trouxe a PIC-NIC de volta à vida em 2021. Ainda bem!
A decisão de gravar um novo disco, com sonoridades consolidadas, novas inspirações, novo fôlego, novas tendências e espírito renovado deve ter sido muito fácil. Vamos lá, amigos! Excelentes músicos, se entenderam muito bem. Baterista firme, linhas interessantíssimas de baixo, guitarras afiadas, a voz da Guidi trazendo aquele clima new wave, tudo muito bem arranjado e executado.
Não farei um ‘faixa a faixa’ pra não estragar as boas surpresas desse novo trabalho da PIC-NIC, mas adianto que as músicas estão muito bem compostas, arranjadas e executadas. O disco tem 8 faixas, participação do rapper Ramonzin em “Essa fala”, diálogos saborosos de guitarra, e a vinheta psicodélica que fecha o álbum, que me lembrou algum episódio da terceira temporada de Twin Peaks e responde pelo enigmático nome de “Você não me engana (Apocalipse Radio)”. Uma pista do que vem no próximo trabalho deles? A produção musical ficou a cargo dos dois guitarristas, Miguel Afonso e Paulo Gehm. A ficha técnica deixa clara a intenção de expandir o universo musical do grupo, visto que os sintetizadores tomaram espaço nas mãos de Miguel, Paulo e o excelente baixista Flavio Chokkito. O baterista Robson Riva acrescenta percussão e drum machine, ou seja, a modernidade se instalou na PIC-NIC. A vocalista Guidi Vieira tem uma afinação perfeita e seu timbre de voz é lindo. Não falta mais nada para que a banda siga seu caminho, seja ele no underground ou alçando voos mais audaciosos. Com vocês, o disco Volta, da PIC-NIC.